"Nos últimos tempos, um dos momentos altos do “jornalismo” de “investigação” foi quando, logo pela manhã, o Correio da Manhã publicou uma notícia sobre a compra de uma casa pela mãe de Sócrates, para, depois, à noite, o noticiário da SIC compôr a notícia, acrescentando mais qualquer coisa. Na altura achei uma estranha coincidência. A menos que dois jornalistas se tivessem lembrado de ir ao encalço de uma notícia semelhante e lhes tivesse ocorrido torná-la pública no mesmo dia, havia qualquer coisa que não batia certo. Era um Sábado, os notários deveriam estar fechados, pelo que dificilmente um jornalista da SIC poderia “investigar” a deixa do colega do CM. Hoje, o Público revela-nos como foi feita a investigação: “a Ordem dos Notários (ON) enviou no início do ano uma mensagem de correio electrónico aos profissionais responsáveis pelos mais de 400 cartórios notariais do país a pedir informações sobre as escrituras públicas em que intervieram o primeiro-ministro, José Sócrates, e a sua mãe”.
Não há grande volta a dar. Trata-se da Ordem que representa uma classe profissional que detinha um monopólio e que deixou de o deter. Aliás, a Senhora Bastonária não esconde ao que vem: “as pessoas não se podem esquecer que os notários possuem arquivos públicos e o primeiro-ministro é um cidadão como outro qualquer. A partir de agora, com a possibilidade de os advogados fazerem muitos actos que antes exigiam escritura pública por documento particular autenticado, os papéis não vão estar tão acessíveis. É que os arquivos dos senhores advogados não são públicos". Moral da história: metam-se com as ordens e já sabem, levam. Para pressões, não estamos mal."
Léxico Familiar
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