quarta-feira, 3 de junho de 2009

As minhas dúvidas sobre o caso BPN

A forma como foi tratada a notícia da compra e venda de acções do BPN pela família de Cavaco Silva foi muito bondosa, tratou-se de uma operação financeira corrente num banco absolutamente normal. Mas se em vez de Cavaco Silva e filha os intervenientes tivessem sido José Sócrates e um dos seus primos não é difícil de adivinhar que os jornalistas teriam feito muitas perguntas.

Teriam perguntado, por exemplo, em que circunstâncias oram compradas, teriam conferido a transferência e comparado o valor dessas acções com o de outras que tenham sido transaccionadas na mesma ocasião, teriam questionado quem as vendeu. De igual forma teriam questionado quais as cotações das acções no momento da venda e ter-se-iam interrogado sobre o porquê de a família optar por as vender em simultâneo. É óbvio que a Cavaco Silva e familiares aplica-se a presunção da inocência, aliás, este princípios parece ser tão forte em função do cargo ocupado por Cavaco Silva que até os amigos membros do Conselho de Estado parecem beneficiar do mesmo estatuto, ainda que o negócio tenha sido feito quando Cavaco era um mero cidadão. Já em relação a Sócrates aplica-se o princípio da culpa e pouco importa o seu estatuto aquando dos actos, até porque em relação ao primeiro-ministro o carácter é uma coisa muito importante ara personalidades como, por exemplo, Pacheco Pereira que vê em tudo falhas de carácter.

Mas já que a bem da República não devemos questionar os negócios da família Silva, não deixaria de ser interessante saber quantos outros militantes, simpatizantes e altos dirigentes do PSD fizeram negócio com acções do BPN, gostaria de saber quantos compraram acções do BPN, quantos as mantiveram, quantos as venderam, como as venderam, a quem venderam e em que momento fizeram o negócio.

Gostaria de saber também quantas personalidades ligadas à política portuguesa obtiveram financiamento no BPN para lançarem ou financiarem os seus negócios ou, mais simplesmente, para comprar casa ou carro. Que taxas de juro foram aplicadas a esses empréstimos, que garantias lhes foram exigidas e demais condições dos empréstimos.

A verdade é que o buraco é de muitos milhões de euros, é a maior fraude na história de Portugal, demasiado grande para que nos tentem convencer de que o malandro foi Oliveira e Costa e todos os outros, incluindo os que beneficiaram do mesmo buraco, foram enganados pelo manhoso presidente do BPN. Até porque quando Miguel Cadilhe saiu da presidência do BPN dizia que resolvia os problemas se o Estado lhe adiantasse 600 milhões de euros, isto é, uma diferença em relação ao buraco actual de mais de mil milhões de euros.

Esse dinheiro não se esfumou e o negócio de Porto Rico só deu um buraco de vinte milhões de euros, há muito mais dinheiro por explicar e por mais que me tentem convencer Oliveira e Costa não pode ter sido o único beneficiário. Seria acreditar que todos os que meteram dinheiro no BPN ou se envolveram nos negócios do banco e da SLN são gente ingénua. Ora, não tenho por ingénuas personalidades como Dias Loureiro e Joaquim Coimbra, homens de sucesso com uma carreira empresarial em que a palavra prejuízo não existe.

Porque será que transpira tão pouco no caso BPN, porque será que este é um dos poucos processos em que se respeitou o segredo de justiça, porque será que quase não há arguidos, porque será que as buscas são escassas, porque será que os jornalistas andam tão descuidados? Eu gostaria de saber mais coisas sobre o caso BPN, até porque enquanto contribuinte estou a contribuir para gatunos que parecem estar a ser protegidos.

O Jumento

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