sexta-feira, 26 de junho de 2009

A transparência segundo Cavaco Silva

"(...)Mas já que Cavaco Silva fala de transparência nos negócios é bom recordar que o seu negócio de acções da SLN é um péssimo exemplo de transparência nos negócios privados de um político, o argumento de que não estava no activo não pega, o célebre artigo em que designou Santana Lopes por “má moeda” é a prova de envolvimento activo na política. É também um péssimo exemplo de transparência nos negócios de um banco, Cavaco ganhou muito dinheiro ao confiar as suas poupanças a um banco gerido pelos seus antigos subordinados, poupanças que serviram para comprar e vender acções da empresa dona desse banco, acções que não estavam cotadas pela bolsa e cujo valor foi arbitrariamente fixadas por um burlão que está preso e sobre o qual recaem suspeitas de fraude de valor superior a mil milhões. Mas nesta república das bananas parece ter-se abandonado o mais elementar princípio republicano, o de que todos os cidadãos são igual perante a lei, tratamos o Presidente da República como se fosse um Rei-Sol.

Se tivesse sido Sócrates a fazer este negócio ficaria sob suspeita, seriam analisados os negócios com acções de todos os seus familiares, até ao quinto grau de parentesco. Mas como foi Cavaco Silva e a filha a fazerem um negócio de lucro fácil e altamente lucrativo (que bom seria se todos os portugueses tivessem podido duplicar as suas poupanças num ano) não mereceu grandes críticas, bastou a Presidente fazer um “choradinho” público para o assunto ficar encerrado. Nos Estados Unidos um presidente pode ser posto em causa, mas nesta democracia de pacotilha o Presidente está acima de tudo, não pode ser questionado, como se a democracia dependesse do seu bem-estar. Em qualquer país com uma democracia a sério em vez de estar a falar da transparência nos negócios da PT, Cavaco Silva estaria a enfrentar um processo de demissão compulsiva na sequência do seu negócio estranho e altamente lucrativo com acções da SLN.

Para Cavaco Silva transparência é afirmar publicamente a inocência de Dias Loureiro, um dos ex-homens fortes do BP e, usando a mesma via, lançar insinuações sobre a PT e, pelo menos de forma indirecta , lançar insinuações sobre actuação do primeiro-ministro. Para Cavaco Silva a amizade pessoal parece ser mais importante para o país do que a lealdade institucional."

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Cavaco Silva

"Não me recordo de Cavaco Silva ter ficado incomodado quando era primeiro-ministro e entregou um canal de televisão ao número um do seu partido e seu antecessor no cargo e outro à Igreja. Com o controlo que exercia na RTP1, onde estava precisamente José Eduardo Moniz, Cavaco passou a contar com a militância noticiosa de todos os canais de televisão, isso sim, era a preocupação de Cavaco Silva com as regras da democracia.

Também não me recordo de ter ouvido Cavaco imiscuir-se em negócios privados, nem mesmo quando o BPA foi privatizado de forma muito estranha, para não referir milhentos negócios duvidosos a começar pelo BPN dos seus velhos amigos.

Também não ouvi Cavaco manifestar qualquer preocupação com o jornalismo praticado pela TVI apesar da condenação generalizada e das violações primárias aos mais elementares valores e princípios do jornalismo.

Mas bastou Manuela Ferreira Leite espirrar num dia para que no dia seguinte Cavaco Silva aparecesse cheio de tosse, nem se deu ao trabalho de dissimular a fonte do contágio. Se alguém tinha dúvidas de que Cavaco Silva abandonou a camisola de Presidente para vestir a de um qualquer J do PSD pode deixar de as ter. Há muito que Belém era uma fonte de crise política, agora evoluiu de forma clara para o envolvimento no processo político.

Mas pode ser que Cavaco Silva tenha azar e os portugueses não lhe satisfaçam o desejo de acumular o cargo de Presidente com o de primeiro-ministro, algo que sempre ambicionou. E se isso suceder Cavaco corre um sério risco de voltar a Boliqueime mais depressa do que espera.

Resta-me fazer uma sugestão a Cavaco Silva: que vá perguntar ao Moniz se este não estará interessado em ser despedido e receber três milhões de euros. Eu diria mesmo que o director da TVI tem feito tudo para isso. Aliás, é ridículo vir com estas intervenções quando há apenas uma semana Moniz pôs a hipótese de deixar a TVI e ir para o Benfica. Terá sido Sócrates a pressionar a candidatura?

É muito grave que um Presidente da República use uma empresa privada para lançar suspeitas em público sobre o primeiro-ministro. É o bater no fundo de Cavaco Silva enquanto Presidente da República."


O Jumento

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