domingo, 20 de setembro de 2009

Provedor do 'Público' admite "agenda política oculta"

Na sua crónica semanal publicada hoje, o provedor do leitor do 'Público' comenta os desenvolvimentos no caso das escutas a Belém e insta a direcção do jornal a "dar sinais claros e inequívocos" da sua isenção.

Na sua crónica de hoje, Joaquim Vieira, provedor do leitor do Público, faz críticas à actuação do jornal, considerando que "do comportamento do PÚBLICO (...) resultou uma atitude objectiva de protecção da Presidência da República (PR), fonte das notícias".

Para Joaquim Vieira, "isto, independentemente da acumulação de graves erros jornalísticos praticados em todo este processo (entre eles (...) permitir que o guião da investigação do PÚBLICO fosse ditado pela fonte da PR) leva à questão mais preocupante, que não pode deixar de se colocar: haverá uma agenda política oculta na actuação deste jornal?"

O provedor diz na sua crónica que "as explicações" para as suspeições da Presidência da República de que haveria escutas da responsabilidade do Governo "eram grotescas (...) mas aceites como válidas pelos jornalistas do PÚBLICO".

Mais adiante na sua análise, Joaquim Vieira sustenta que, depois da primeira manchete do Público - que deu conta das suspeitas da Presidência 17 meses depois da data do e-mail divulgado na sexta-feira passada pelo DN - e face ao silêncio de Cavaco Silva e do primeiro-ministro, "o passo seguinte do PÚBLICO deveria, logicamente, consistir em confrontar o próprio PR com as suas responsabilidades políticas na matéria".

Referindo-se ao momento em que o Público finalmente teve uma reacção do PR - que pedia que não houvesse desvios em relação aos "problemas do país" - Joaquim Vieira questiona: "como pode o PR fazer declarações altruístas sobre a situação nacional e ao mesmo tempo caucionar (se não mesmo instigar) ataques abaixo da cintura lançados de Belém sobre São Bento?"

Joaquim Vieira começa por explicar que "na sequência da última crónica do provedor" se instalou na redacção "um clima de nervosismo", no seio do qual o director do Público, José Manuel Fernandes, terá chegado a chamar "mentiroso" ao provedor.

Joaquim Vieira conta ainda que "a sua correspondência electrónica" e de outros jornalistas do diário foi "vasculhada sem aviso prévio pelos responsáveis do PÚBLICO".

O provedor dos leitores do Público critica ainda o Diário de Notícias pela publicação da correspondência que deu origem à manchete de sexta-feira, que denuncia a "encomenda" do caso das escutas pela Presidência da República, declarando que "não denuncia fontes de informação confidenciais dos jornalistas (...) e acha muito estranho que outros jornalistas o façam".

No final da crónica, Joaquim Vieira aponta para o facto de já ter feito "observações sobre procedimentos de que resulta sempre o benefício de determinada área política em detrimento de outra".

Por considerar que esta actuação "não corresponde ao seu estatuto editorial [do Público], Joaquim Vieira sustenta que "a direcção deveria dar sinais claros e inequívocos. Não por palavras (pois a coisa mais fácil é pronunciar eloquentes declarações de isenção), mas sim por actos."
DN

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