A denúncia parte de um assessor de Sócrates, que assistiu a actos 'repugnantes e condenáveis' nas eleições internas.
Os «caciques locais» e o «arrebanhamento de cidadãos» estão a instalar-se «perigosamente» no PS e a subverter a democracia interna. Quem o diz é Artur Penedos, assessor de José Sócrates em S. Bento para os Assuntos Sociais, e membro da federação do Porto. Num artigo de opinião muito duro, publicado no último número do jornal do PS Acção Socialista, Penedos diz-se indignado com o que viu nas recentes eleições do PS-Porto, em que apoiou Renato Sampaio contra José Luís Carneiro.
Conta que houve pessoas a pagar as quotas em atraso de centenas de militantes, a combinar o sentido de voto à entrada das sala das urnas e ao exercício do voto sem as mínimas condições de confidencialidade.
«Não falo de cor. Falo porque vi e porque achei repugnante, impróprio e condenável», garante.
Perante tais métodos, Penedos promete apresentar alterações aos estatutos do PS no próximo Congresso partidário, em 2011.
O objectivo, por exemplo, é impedir que as quotas de militante sejam pagas por terceiros, travar a possibilidade de, à ultima hora, um militante pagar quotas em atraso há muito tempo só para ir votar, suspender o direito de voto a quem esteja anos sem participar numa reunião partidária.
«A falta de interesse do aderente, que durante tantos anos se colocou à margem da vida do partido, deverá ter consequências para evitar que os amantes de métodos habilidosos possam manipular os mais necessitados ou incautos e, desse modo, recolher benefícios proibidos», escreve.
O artigo pode também ser visto como uma espécie de «Sei quantas quotas pagaste nas eleições passadas». No rescaldo das eleições federativas, um dos dirigentes mais próximos de Sócrates, André Figueiredo, secretário-nacional-adjunto para a Organização, foi visado por várias críticas de caciquismo, nomeadamente pelo ex-líder do PS-Coimbra, Victor Baptista, que perdeu as eleições.
As queixas seguiram até para o Tribunal Constitucional. Os alertas de Artur Penedos surgem, assim, como um alerta da ala socrática sobre os comportamentos dos seus opositores.
Estas eleições foram muito mais aguerridas e tensas do que as anteriores porque o PS vive um momento de fim de ciclo. Muitos dirigentes e militantes receiam que o partido perca as próximas eleições legislativas e isso significa, entre outras coisas, a redução de cerca de vinte lugares de deputados na Assembleia da República.
Nota: texto publicado no SOL a 12-11-2010
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